Porque visitar Jericoacoara na baixa temporada?

Porque Jeri não é um destino, Jeri é um estilo de vida!

Nesse exato momento, eu estou em um vôo para Belem… um vôo que me leva para mais longe ainda de Jericoacoara, minha Jeri, meu lar nos últimos dois meses. E, apesar de eu ter dedicado, quase que exclusivamente, todos os meus posts para falar sobre meu tempo e sentimentos em Jeri, parece que ainda tenho coisas pra dizer.

Cheguei a Jeri, pela primeira, em fevereiro, o último mês da alta estação. Meu plano inicialmente era ficar por 3 ou 4 dias, então voltar para Natal, onde eu tinha alugado um apartamento, e continuar minhas viagens para o Rio, Bahia, São Paulo… Eu só não sabia que Jeri roubaria meu coração e se tornaria minha nova zona de conforto no Brasil. Os 3 ou 4 dias se transformaram em 12 (só com dois biquinis e algumas camisetas na mala). Naquele momento, o mero pensamento de partir me deixava triste, então pensei “por que procurar por outro paraíso se eu já achei o meu?”. Decisão tomada. Fiz, mais uma vez, as 20 horas de viagem de ônibus até Natal, desta vez, para pegar minhas coisas, esvaziar meu apartamento e voltar para o meu paraíso. Andando pela vila, um dia antes de partir, procurando por apartamentos para alugar, eu encontrei o lugar ideal para mim. Uma linda kitnet pertinho da praia Malhada, que eu tinha me apaixonado no primeiro dia em Jeri. – Que sorte, hein?! – Uma carinhosa família italiana me ajudou a me acomodar e a começar a me sentir “em casa”.

Continuando, No 29 de fevereiro, aquele dia especial que só acontece a cada 4 anos, eu larguei meu vício em CrossFit e me foquei em aprender português, surfe e forró. E eu comecei imediatamente. Baixei DuoLingo e estudei todo santo dia. Fui a praia tentar um bom negócio para alugar uma prancha e começar a ter aulas de surfe, e perguntei quando eram as ‘noites de forró’.

Na hora eu notei como era diferente a vila naquela época do ano. Tão calma e ao mesmo tempo nunca vazia. Jericoacoara tem temperaturas acima dos 28 graus o ano todo e uma pequena estação chuvosa entre março e maio. Durante a alta estação todo mundo trabalha o dia todo levando os turistas para fazer todo tipo de coisa estranha que eles gostam de fazer em suas férias, mas sempre com sorrisos em seus rostos. Os nativos, dificilmente, tiram algum tempo para eles mesmos, então, ao final de fevereiro, eles tem os primeiros 3 dias de folga e podem, finalmente, desfrutar de seu paraíso, que tão generosamente oferecem aos forasteiros, entre junho e fevereiro. Agora é a hora para sair todas as noites, dançar, jogar vôlei e futebol, praticar capoeira, se divertir e relaxar.

Essa foi a Jericoacoara que eu me apaixonei. As pessoas de Jeri me abraçaram, essa “gringa grega” que não fala nada de português, sempre me dando um largo sorriso, um “bom dia” e fazendo todo esforço para se comunicarem em qualquer idioma mal falado que pudéssemos usar, até mesmo linguagem de sinais ou corporais.

Jeri é famosa entre os Wind e Kite Surfers, mas eu preferi o surfe. Sim, eu tentei, mas o surfe não me conquistou. Talvez eu não dediquei o tempo necessário, ou talvez só não era hora para eu me tornar a surfista que eu tinha imaginado.

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Em vez disso, eu encontrei um ótimo lugarzinho na praia, o Milano Beach Bar, onde eu tomei litros de agua de coco e caipirinhas de maracujá quase que diariamente. A música, a paisagem e as bebidas você pode desfrutar o ano todo, mas a tranquilidade, as cadeiras de sol, a conversa fiada com os garçons e os nativos você só aproveita durante a baixa temporada, quando a manhã pode começar com uma chuva torrencial ou só uma fina garoa, e basta esperar algumas horas para que tudo ‘volte ao normal’ e a praia esteja novamente esperando por você!

Ao que eu mais me dediquei foi a dançar,… Quintas a noite na Maloka eram o ponto alto da minha semana, mesmo eu tendo que acordar as 5:30 da manhã para trabalhar (sim, eu trabalho enquanto viajo, não vivo eternamente de férias – eu sou tradutora.), eu tinha um alarme programado no celular para as quartas-feiras 23:50, para levantar e ir dançar, porque não tem sentido ir as 22:30, quando a banda começa, e não tem ninguém lá para dançar! A melhor hora para chegar é por volta das 00:30 e 1 da manhã. Logo eu comecei a ir no forró da Dona Amelia também nas quartas e sábados, eu já estava ficando viciada…

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Também ia para as sextas de samba (que me disseram ser a balada preferida dos nativos), também aproveitei muito lá, não pela dança (samba realmente não é pra mim). A banda tocando, a energia daquele lugar nas sextas é simplesmente incrível. A multidão dançando e cantando junto… sem mencionar que lá eu tomei as melhores caipirinhas.

Nas primeiras noites que saí, eu ainda estava meio perdida sem conhecer ninguém e me sentindo meio estranha por estar saindo sozinha, mas eu não era a única. E acho que quando começaram a me dar o desconto para os habitantes locais no ingresso e eu comecei a reconhecer as melodias dos sambas e dos forrós, eu comecei realmente a me misturar.

Eu aprendi o forró em Jeri. E isso definitivamente é muito distante de simplesmente dizer “eu aprendi forró”. Eu sei disso agora. Eu dancei a mesma dança em Fortaleza, meus shorts não saíram do lugar, e conversei com ‘forasteiros’, forasteiros de Jeri. Depois do meu choque inicial dançando em Fortaleza, deixem-me dizer uma coisa: em Jericoacoara – a Jeri da baixa temporada – Eu aprendi o forró safado, e pensei que realmente esse era a única maneira de dançar. Em Fortaleza eu vi outra dança, um forró mais clássico – Muito bom também, mas completamente diferente. As mulheres bem vestidas, de salto alto e os homens mantendo uma distancia segura de sua parceira. Em Jeri você dança descalço, colando seu coração no coração do outro, sentindo seu cheiro e ouvindo sua respiração ofegante. Não existe distancias, os dois se tornam um só. Talvez os ‘Jericoacoarenses’ foram espertos o suficiente para fazer uma gringa dançar assim, mas a verdade é que eu preferi esse jeito de dançar que o outro. Quando me tiraram pra dançar em Fortaleza eu pensei que o normal seria abraçar bem apertado o homem e sair dançando, mas imediatamente ele me corrigiu. Então, com um click, minha percepção de dança mudou. Imagine se eu tivesse aprendido primeiro o forró em Fortaleza e depois ido a Jeri? Isso sim teria sido um choque. Mas eu aprendi o dos nativos, o jeito apaixonado e eu vou continuar dançando assim! Eu nunca vou me esquecer minhas primeiras impressões e tentativas de dançar forró. Aqueles dias e noites foram minha realidade por 2 meses, e eu mal posso esperar para voltar.

Todos os bares em Jeri fecham às 2 da manhã – menos a Dona Amélia, conhecida como a primeira casa de forró em Jeri, fato que a torna meio que um ‘monumento’ da cidade, por isso tem o privilégio de ficar aberto até as 3 da manhã. O que eu não consegui ver foi a padaria que abre as 2 da manhã somente para matar a fome dos dançarinos e depois fecha as 5 da manhã. Eu tinha que deixar alguma coisa para conhecer da próxima vez.

Os dias na baixa estação em Jeri são paradisíacos. Para mim, era uma experiência muito mais real, falar com os nativos, ser convidada para jantar, para canoagem, buggy-kite-surfing e não ser vista somente como uma turista que chega e depois vai embora. Aprendi com quem contar caso alguma coisa ruim acontecesse, reconhecer cada ruazinha da cidade e qual coqueiro dava a melhor sombra em cada hora do dia… Aproveitar minhas tardes no Hotel Hurricane (que na alta estação não aceita quem não é hóspede) sentada olhando para a piscina infinita… Tomar um delicioso sorvete na praia principal com a confiança que a menina atrás do balcão não iria perguntar de novo se precisava de duas colheres pra tomar aquele copo gigante de sorvete que eu tinha acabado de comprar, porque ela já tinha percebido que sorvete é uma daquelas coisas na minha vida que eu não divido com ninguém. É todo meu.

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Rostos familiares, sorrisos calorosos, novos amigos todos os dias e eu me sentindo em casa. Eu não poderia sonhar com nada melhor… simplesmente não tem preço.

Claro, eu imagino que os preços de quase tudo na baixa temporada também são menores, mas acredite, essa é a menor das vantagens de visitar Jericoacoara quando os nativos estão se divertindo mais. Esses meses preguiçosos são como uma pós festa secreta, que só poucos escolhidos conhecem e aproveitam.

E, pra ser honesta, tem uma coisa que eu mudaria se pudesse. Bem, duas na verdade.

Uma é que o fato de em qualquer possibilidade de chuva a internet vai cair. Tudo bem, quando você só precisa dela para falar com suas amigas ou surfar na internet (na internet em vez de no mar), mas não quando eles cortam a energia elétrica por 7 horas e você sabe que tem que entregar seu projeto na manhã seguinte. Posso dizer que essas foram as piores 7 horas da minha vida em Jeri. Isso só aconteceu uma vez e depois eu descobri que eu podia ter sido informada antes do corte, o que teria resolvido todos meus problemas. Agora eu já sei.

A outra é o fato de não existir CrossFit. Existe uma academia e eu treinei lá por quase toda minha estada, mas eu tenho que admitir que eu sou preguiçosa quando se trata de malhar. Solução/projeto para a próxima vez: academia na garagem. Sim, eu estou fazendo planos a longo prazo aqui.

Eu sei que nos próximos meses eu vou me pegar sonhando acordada com Jeri todo santo dia, postando fotos das praias, pores do sol, dos cavalos e jumentos andando livres e pensando nas noites que eu passei dançando com os nativos.

Daqui a 3 meses eu estarei livre para voltar ao Brasil de novo, e eu só consigo me imaginar em Jeri. Longas caminhadas na praia com agua de coco na mão ou uma caipirinha se for o caso, todo os dias. Eu já estou com tanta saudade daquele lugar…eu estou planejando não perder nenhum daqueles pores do sol de novo.

Eu vou voltar, e, quando isso acontecer, vai ser pra ficar.

 

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8 thoughts on “Porque visitar Jericoacoara na baixa temporada?

  1. Ai que texto lindo de Jeri…que texto lindo de quem se apaixonou por Jeri…como eu…me apaixonei há 26 anos e, a cada vez que vou parece a primeira. A Jeri de 2016 é completamente diferente da Jeri daquele fevereiro de 1990 quando fui pela primeira vez. E foi como que parecido para ficar 3 dias e acabei ficando 10 com um biquini, uma canga, um short e uma camiseta (rss)…Aquela Jeri que não tinha energia elétrica, telefone nem pensar…e também pra quê? Enfim… Muitas histórias vivi, muitos amigos fiz…e amores também. Devo te dizer que você nunca mais vai desapaixonar dela, porque ela é a própria paixão…Aproveite muito dela, pois ela tem muito a te dar…. Eu… eu conto os dias que prá lá voltarei….abraços.

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    1. Dear Mara…! Thank you for your beautiful comment! I knew I was not the one feeling like that and my emotions are so strong I had to share them!
      Maybe one day we meet in Jeri!
      Take care

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  2. Nossa me emocione em lê o q vc falou do meu paraíso do nosso paraíso tudo muito lindo ,mais pura verdade na baixa temporada nos nativos curtimos mais nossa vila nossas balada .muito obrigada por cada palavra e volte sempre nossa jeri é de todos e sempre são bem vindos

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  3. Ao ler seu artigo, descobri minha própria experiência de Jeri contada! ! Até a anecdote da padaria nocturna ! Concordo completamente com você ! A baixa temporada é o melhor período para verdaderamente conhecer os segredos desse Paraíso fora do tempo e aprecia-los.

    Te desejo ainda monte de caminhadas nas Dunas e no Serrote, e muitas danças !!
    Foi um verdadeiro prazer ler esse artigo! Me levou lá, em Jeri, onde espero voltar um dia de Março chuvoso 🙂

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    1. Hey Leila, I’m really glad you enjoyed the article 🙂 March is perfect for Jeri and I hope to still be here by then, so drop me a line and maybe we can meet! Beijos!

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